POR QUE OS HOSPITAIS DE CAMPANHA FORAM DESMONTADOS?

Agora, todo bolsominion que se preze acha que encontrou o argumento infalível pra justificar e camuflar a incompetência e a responsabilidade do governo federal sobre nosso atual estado de coisas. Perguntam eles: "Por que desmontaram os hospitais de campanha?", perguntam cinicamente, como se sempre tivessem sido a favor dos mesmos. No intuito de refrescar a memória desse povo, resolvi reunir algumas informações.

Os hospitais de campanha começaram a ser desmontados em agosto/setembro de 2020, quando a taxa de transmissibilidade do vírus caiu de 1 pra 0,94 (1). Hoje, para fins comparativos, é de 1,13 (2). Não parece uma diferença muito grande, mas, na prática, abaixo de 1 significa, grosso modo, que nem todo mundo transmite a doença, acima de 1, que todo mundo transmite.

No início de setembro, as taxas do país apontavam sinais de redução progressiva, tanto que muitos lugares começaram a liberar seus lockdowns. Essa percepção foi o que levou, inclusive, o (anti)presidente a declarar, no dia 11 de setembro, que "estamos praticamente vencendo a pandemia". As mortes diárias não chegavam a 700 (o que ainda é muito, mas já representava uma queda de 21% com relação à quinzena anterior). (3)

Apesar disso, os especialistas recomendavam cautela. O que faz o (anti)presidente? Volta a provocar aglomerações em vários lugares do país As pessoas se sentiram encorajadas e voltaram a circular mais "livremente" (leia-se irresponsavelmente). Paralelo a isso, os hospitais de campanha que ainda restavam montados começaram a ser invadidos por hordas de bolsominions imbecis que não tinham nada mais interessante pra fazer. Além disso, muitos recursos já se haviam consumido. O hospital montado no Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza, por exemplo, consumiu algo em torno de R$ 80 mi reais (4). Como a doença dava sinais de recuo, não havia mais necessidade de manter uma estrutura tão cara.

A despeito das recomendações dos médicos, incentivadas pelo exemplo da autoridades maior da nação, as pessoas voltaram a circular e o vírus encontrou um ambiente propício para se proliferar e, naturalmente, para a mutação genética. Os casos começaram a aumentar.

Importante lembrar que, em julho de 2020, o Congresso aprovou o adiamento das eleições para novembro (5). Enquanto isso, o genocida-Mor da Nação articulou contra, junto ao chamado Centrão (6). As eleições aconteceram em novembro. Apesar do esforço, Bolsonaro não conseguiu eleger quase nenhum candidato apoiado por ele; em lugar nenhum do país. Dos 13 que ele apoiou, 9 não se elegeram (7).

Na segunda quinzena de novembro, a taxa de transmissibilidade passou de 0,68 para 1,10 (8). Para o presidente-realidade-paralela, essa tal 2ª onda era "conversinha" da imprensa (9). E os cabeça-de-prego, como se diz aqui no Ceará, foram na onda dele. Os hospitais de campanha tinham sido desativados já, a essa altura. Note a mudança de taxa no início do parágrafo. Poderíamos ter permanecido em queda, não fosse o governo federal incentivando as aglomerações, desdenhando da COVID, do uso de máscaras, inventando soluções mirabolantes como o Spray de Ozônio com aplicação pelo ânus ou mesmo o Kit COVID, sem nenhuma comprovação científica e, ao contrário, com vários estudos apontando efeitos colaterais graves (10). Como hoje sabemos, em agosto, - em AGOSTO. Veja bem! Como diz o Ciro -, a Pfizer ofereceu 70 milhões de doses de vacinas com previsão de entrega em dezembro ao governo brasileiro, que simplesmente NEGOU (11). *Jênio!

De lá pra cá, com a crise em Manaus (e todos sabemos que lá houve movimentos de rua em protesto contra o isolamento social incentivados pelo Presidente e por apresentadores de TV como o Sikêra Junior - que deveria estar preso-; inauguração de grandes lojas atraindo multidões naquela região, enfim. Resultado:), veio uma nova cepa do Coronavírus, chamada no mundo inteiro de "cepa Brasileira", muito mais transmissível e muito mais letal, levando a óbito um perfil que, até então, estava praticamente fora de perigo: jovens de 50 anos para baixo. A sequência foi ladeira abaixo, onde estamos hoje a todo vapor: 261.188 mortos por COVID e contando uma morte a cada 50 segundos.

Agora, se vc, bolsominion, tem uma teoria mirabolante da conspiração pra explicar por que os hospitais de campanha foram desativados. Conta aí.

Léo Mackellene é doutorando em "Educação" pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em “Literatura e Práticas sociais” pela Universidade de Brasília (UnB). Professor de Argumentação jurídica no curso de Direito e Editor-chefe de Publicações Acadêmicas da Faculdade Luciano Feijão (FLF), em Sobral-CE, terra de Belchior e Ciro Gomes. Escritor membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste (ALANE). Autor de nove livros, dentre eles o romance Como gota de óleo na superfície da água (Radiadora, 2017) e do livro de filosofia para crianças Diálogos de João e Júlia (Radiadora, 2020). E-mail: leomackellene@gmail.com (1) https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/09/01/taxa-de-transmissao-da-covid-19-no-brasil-e-a-mais-baixa-desde-abril-aponta-imperial-college.ghtml (2) https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/03/02/taxa-de-transmissao-do-coronavirus-sobe-para-113-no-brasil-aponta-imperial-college.ghtml (3) https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/09/10/brasil-tem-reducao-de-21percent-das-mortes-por-covid-em-relacao-a-media-de-14-dias-atras.ghtml (4) https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/politica/estrutura-fisica-de-hospital-de-campanha-no-pv-representa-5-do-custo-total-de-funcionamento-1.2228194 (5) https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/07/02/congresso-oficializa-adiamento-das-eleicoes-municipais-para-novembro (6) https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/06/25/interna_politica,866744/com-aval-de-bolsonaro-centrao-age-para-impedir-adiamento-das-eleicoes.shtml