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KAROL CONKÁ e A COMUNICAÇÃO À ESQUERDA: precisamos aprender com ela

Análises de esquerda têm demonstrado preocupação pela forma como o BBB21 tem comunicado as questões identitárias e têm procurado interpretar o sentimento de repulsa à pauta identitária que tem ganhado força no debate público a partir da participação de representantes destas pautas no reality show da TV Globo. Nossa energia e atenção deveria estar voltada não a como a TV Globo comunica essas pautas, mas a como nós as comunicamos.



Há um bombardeio de notícias vindas do BBB21 nas redes sociais e, no meio desse bombardeio, há muitas análises preocupadas com a maneira como a TV Globo estaria manipulando a percepção pública sobre a pauta identitária, levando-a a sentir antipatia pela militância dessas causas. A pergunta que me vem imediatamente é: a Globo ou os "representantes" dessa militância ali na casa?


Apesar de considerar plausível essa tese (até me acendeu o farol vermelho!), gostaria de tecer comentários mais frios acerca do assunto.


1) Apesar dessa ser uma análise possível (e plausível), considero essa uma análise estéril, porque paralisante: perdemos muito tempo no exercício de desmascarar o que já está sem máscara há muito tempo. Observe que nem a esquerda, nem a direita confiam mais na Grande Mídia. Tudo bem, ela atua subliminarmente, com mensagens indiretas, com percepções inconscientes e motivações sobre a sensibilidade sutil a respeito do que acontece, mas... deixe me explicar.

A Grande Mídia é a porta-voz dos grandes empresários e da elite. E manipula as notícias, como todos já sabemos, dando ênfase àquele ou àquel'outro fato, àquele ou àquel'outro detalhe. Mas os jornais têm uma verdade. Onde está a verdade dos jornais? Nos seus editoriais.

Os editoriais dos jornais são mais importantes que as próprias notícias que veiculam. É para eles que devemos olhar. Os jornais são a voz das elites. E essa elite fala diretamente para seus representantes, que estão na Câmara dos Deputados, mais do que na chefia do executivo, mais do que no Senado, mais do que no judiciário. Faça esse exercício, observe os editoriais dos grandes jornais e as votações na Câmara. Às vezes, usam os mesmos termos, as mesmas palavras, as mesmas construções frasais.

2) As fontes de informação (independente de ser ou não verdadeira) se pulverizaram. Isso tirou da Grande Mídia o monopólio pela (des)informação que existia até 2013. Esse fenômeno precisa ser considerado, estudado.


Se você observar a influência da Grande Mídia nas eleições presidenciais de 1989 (Lula x Collor) e compará-la ao seu papel nas eleições de 2013 (Dilma x Aécio), vai perceber que, tanto ali como aqui, essa influência se mantém. Mas se você comparar essas duas eleições às eleições de 2018, verá que a grande mídia se enfraqueceu significativamente. E isso num gesto paralelo ao crescimento das redes sociais no Brasil. São elas as responsáveis pela pulverização das fontes de informação. E são elas as responsáveis, portanto, pelo enfraquecimento da Grande Mídia.


3) "Ah, mas estamos todos assistindo ao BBB! Isso não prova que a Grande Mídia ainda tem muita força?!". Para sugerir uma pauta para o debate talvez. Mas quem não pode sugerir pautas? Para concluí-lo, não.


Não foi o BBB 21 que trouxe à tona a pauta identitária, foi a pauta identitária que levou a Globo a selecionar participantes que poderiam representar essas pautas dentro do programa. Claro que ela pode ter selecionado os "representantes" dessas pautas pelo perfil de cada um - e provavelmente o fez -, mas o controle do debate não pertence mais a ela.


Vendo assim, é possível perceber que a influência que a Grande Mídia exerce sobre a pauta dos debates públicos não é nem de sugerir a pauta, mas de enjagar-se a uma pauta já existente. Ela pode reprová-la ou aprová-la, mas não tem força para concluir o debate e estabelecer sobre as pautas percepções definitivas como em 1989 e 2013.


Veja o que aconteceu em 2013, quando a Grande Mídia instigou a população contra o governo petista mas perdeu o controle do debate, contribuindo, como todos sabemos, para a eleição não de um candidato liberal, como queria com o Aécio, mas para a eleição da extrema direita que soube, legitimamente ou não, aproveitar-se da pauta política à época: o questionamento do sistema e do stablishment político, justamente o discurso que elegeu Bolsonaro.


Que quero dizer com isso tudo?


4) Naquele momento, perdemos a chance de capitalizar esse questionamento (por quê?! Cabe um estudo sobre isso). O fato é que não o capitalizamos. Há algumas hipóteses para isso e há dois textos neste blog que podem apresentar algumas delas (1) e (2). A questão central que se nos coloca agora, tal como aquela que se colocou no trapézio de nossa memória brascubana - "Decifra-me ou devoro-te!" - é: o que podemos fazer para evitar que percepções erradas sobre as pautas identitárias prevaleçam sobre o que elas de fato são? Como podemos comunicá-las melhor, sem que nossa antipatia, nosso cansaço ou nossa revolta se sobreponha à justeza de nossa causa?


A meu ver, aparando nossas arestas, equalizando nossos exageros, acalmando nossa legítima (mas sempre desastrosa) urgência histórica, amenizando nossos discursos, usando outros tons, palavras menos agressivas, olhares menos julgadores, posturas mais acolhedoras, ouvidos mais atentos, língua e dedos menos ávidos em ofender. É um processo educativo como qualquer outro. E, claro, não se trata de "deixar passar" ou, pior, de "passar pano". Trata-se de olhar para figuras como Karol Conká e olharmos para nós mesmos, procurando aprender com ela a não nos comunicarmos como ela.

Léo Mackellene é doutorando em "Educação" pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em “Literatura e Práticas sociais” pela Universidade de Brasília (UnB). Professor de Argumentação jurídica no curso de Direito e Editor-chefe de Publicações Acadêmicas da Faculdade Luciano Feijão (FLF), em Sobral-CE, terra de Belchior e Ciro Gomes. Escritor membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste (ALANE). Autor de nove livros, dentre eles o romance Como gota de óleo na superfície da água (Radiadora, 2017) e do livro de filosofia para crianças Diálogos de João e Júlia (Radiadora, 2020). E-mail: leomackellene@gmail.com (1) COMO DESCEMOS TÃO FUNDO? Epistemologia do Brasil Contemporâneo https://leomackellene.wixsite.com/ooutroladodacoisa/single-post/2020/05/29/a-base-filos%C3%B3fica-do-brasil-atual (2) A política partidária é um amuleto de hipnose coletiva https://leomackellene.wixsite.com/ooutroladodacoisa/single-post/2020/02/13/lula-e-bolsonaro-amuletos-de-hipnose-coletiva


 

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