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O que pode um presidente?

POR QUE É MESMO QUE A GENTE TEM QUE ESCOLHER UM CANDIDATO, HEIN? Você já parou pra pensar que um presidente talvez não tenha poder de mandar em nada?!

Vamos supor que eu produza 10 sapatos por dia, e contrato 2 ajudan-tes; passando a produzir 30 sapatos por dia;


Quando inventam uma máquina que substitui esses dois ajudantes e ainda produz o dobro de sapatos, o que qualquer de nós faria? Isso se chama Revolução Industrial, e aconteceu no século XVII. Então, agora, produzo 60 sapatos/dia. Pois bem, eu compro a máquina e dispenso os dois ajudantes. Preciso, no entanto, de mão-de-obra especializada pra lidar com a máquina; se não tiver no meu país, eu trago de fora; como aconteceu no final do séc. XIX, com os operários italianos que vieram pro Brasil trabalhar nas máquinas das plantações de café, no lugar dos escravos, que não sabiam nem apertar um botão. Opa! E para onde eles foram, os escravos? Advinha!!! Eles receberam terras pra ir quando foram libertos? Não. Não houve uma reforma agrária! Eles foram pra onde? Aglomerarem-se nas periferias dos bairros distantes das grandes cidades, constituindo as favelas.


Um tempo depois, uma revolução microeletrônica inventa o computador, que pode coordenar sozinho as máquinas. Com o lucro obtido com a dispensa dos ajudantes e a venda dos 60 sapatos em troca de um operário, eu compro um computador. Dispenso o operário e preciso de uma mão-de-obra mais especializada ainda. Se não tiver no meu país, pressiono o governo a fundar Universidades e cursos técnicos por aqui. É até bom, que aí ele fica bem falado como aquele que trouxe mais Universidades e Cursos técnicos na história do meu país;


Seja como for, os meus ajudantes artesanais e o meu operário já estão desempregados.


Com o aumento do desemprego, há um consequente aumento do mercado informal, da violência urbana, da miséria social... e, consequentemente, há uma queda no mercado de consumo. Vixe! Quase ninguém está comprando os meus 60 pares de sapato. O que eu faço?


Opção 1) Começo a produzir sapatos com durabilidade cada vez me-nor (isso se chama "obsolescência planejada", e isso não fui eu que inventei: lembra daquela frase "não fazem mais carros como antiga-mente"? Pois é!). Isso diminui os custos de produção, barateia o pro-duto e acaba compensando a queda do mercado de consumo - até por-que, como os produtos duram me-nos, logo, logo se precisará comprar um novo;


Opção 2) Posso financiar a cam-panha de algum candidato que já tenha percebido que a solução é o mínimo de distribuição de renda, afinal, se não tiver consumo, o sistema trava. Aí, com uma ajudinha do governo ("distribuindo renda" a partir de programas como "Bolsa-Família", "Minha casa, minha vida", "Minha casa melhor"), as pessoas voltam a comprar os meus 60 pares de sapato.


Mas o mercado informal conti-nua crescendo. Afinal, todas as em-presas querem se modernizar, e, assim, a mão-de-obra humana vem sendo substituída cada vez mais por máquinas e computadores. Ocorre, então, uma corrida cada vez mais desenfreada por postos de traba-lho... as pessoas precisam se especia-lizar cada vez mais (pra concorrer a estes postos) e, quem sabe até, con-seguirem mais de um emprego. Parece bom, não é? Parece.


Quem vai se qualificar mais?! Oxe!!! Quem pode fazer isso, ora!


Mas no meu país, existem muitas pessoas que não podem. Então, como essas pessoas podem se especializar e, assim, se inserir no mercado pra poderem ter dinheiro pra comprar os meus 60 pares de sapato? Fácil: reservo algumas vagas para essas pessoas ("Cotas sociais") nas Universidades Públicas e financio (através de FIES e PRO-UNI, por exemplo) a entrada dessas pessoas em faculdades particulares... faculdades, universidades, centro universitários... E essas pessoas ficam amarradas por anos e anos pagando o financiamento!


Mas o crescimento do mercado informal pega mal pro governo. O que ele faz? Mata alguns coelhos com uma cajadada só: começa a ur-banizar e modernizar áreas ainda muito pouco "urbanizadas", o que significa inserir no mercado, mas também significa desmatar, desapropriar comunidades que vi-viam nestas áreas... incentivando as empresas com isenção fiscal, por exemplo, como aconteceu com a Grendene em Sobral-CE. O mercado formal volta a crescer. Graças a Deus!


Com a volta do crescimento do Mercado Formal, a economia volta a aquecer, e as pessoas poderão, enfim, comprar os meus 60 pares de sapatos, que a essa altura já devem ser sei lá quantos, afinal, são 60 por dia!!! Ufa!!!


A modernização/urbanização/ca-pitalização/industrialização do interior implica em "desenvolvi-mento". As pessoas começam a "melhorar" sua condição de vida: comprar ar-condicionado, uma TV maior, um notebook, um tablet, celulares, uma geladeira maior, um carro, uma moto... E todos têm a sensação de que estamos avançando, confundindo poder de consumo com qualidade de vida. Alguns começam a celebrar isso através da música e da dança: cantando "Funk ostentação", "Forró ostentação"... e outras formas pós-modernas do Barroco... é o novo Barroco, o bar-roco do lixo.


Pra manter todos os aparelhos funcionando, é preciso de mais energia... Oxe!!! Vamos lá na Ama-zônia, ué, onde tem muita água, e mandamos construir umas hidre-létricas lá, né, não? Afinal, lá tem um Belo Monte, donde se pode ver o futuro da construção civil no Brasil. Mas lá vivem muitos índios! Ora, põe pra fora! É o crescimento, meu filho! É o crescimento!


O avanço do marketing e da propaganda torna o consumo um fetiche, solução, inclusive, para nos-sa solidão, nossa carência contem-porânea, afinal, trabalhando tanto, que tempo eu tenho pra mim, pra estar com as pessoas que realmente interessam? Que tempo eu tenho pra me relacionar com elas? Só se for através de uma rede social. Resultado? Fico mais carente e sozinho. E sozinho, eu sinto medo. Os telejornais são agências de propa-ganda do medo. E esse medo é que alimenta a ansiedade. E a ansiedade, o consumo. Os objetos se sobre-põem aos sujeitos, é a degradação do homem: as pessoas se matam e matam as outras pra conseguir esses objetos.


Com as pessoas consumindo mais, o que acontece? Extração cada vez mais acelerada dos recursos na-turais. Como as coisas quebram rá-pido (a tal da "obsolescência plane-jada"), o que acontece? Lixo, poluição, degradação da natureza. Como resposta da natureza: desas-tres, tsunamis, deslizamentos, tufões, seca, cheias...


E aqui, o ciclo se completa: "Há avanços que se parecem com atrasos, e atrasos que se parecem com avanços".


Dessa forma, o que você acha que um presidente, financiado por gran-des empresas, pode fazer pra evitar a degradação do homem e da natureza? Será que ele realmente manda em alguma coisa ou será que quem manda mesmo é a lógica do dinheiro e das grandes empresas? Não será assim também para o cargo de governador? E de prefeito?



Léo Mackellene é mestre em “Literatura e Práticas sociais” pela Universidade de Brasília (UnB). Professor de Argumentação jurídica no curso de Direito e Editor de Publicações da Faculdade Luciano Feijão (FLF), em Sobral-CE. Escritor membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste (ALANE). Autor de nove livros, dentre eles o romance Como gota de óleo na superfície da água (Radiadora, 2017). E-mail: leomackellene@gmail.com

 

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